terça-feira, 25 de julho de 2017

O ascetismo e o farisaísmo contemporâneo

O ser humano foi criado para honra e glória do nome do Seu Criador.
Esta é uma verdade absoluta e irrefutável implícita nas Escrituras Sagradas.
A coroa de Sua criação deveria, com afinco, glorificar e exaltar o Seu nome constantemente reconhecendo sua total dependência dEle.
Lamentavelmente, como passar do tempo, o pensamento teocêntrico (Deus no centro de todas as coisas) passou a ser substituído pelo pensamento antropocêntrico (o homem no cento de todas as coisas). Não digo isso com base histórica do Renascimento ocorrido na Europa entre o fim dos séculos XIV e XVI, mas no novo direcionamento eclesiástico de importância voltado para a glória do próprio homem.
Nos dias de Cristo existia a mais importante ramificação do judaísmo que com veemência Ele criticava – o farisaísmo.
Pense num grupo cuja conduta contradizia com a sua pregação?
No farisaísmo a prática do ascetismo era frequente. Muitos fariseus fervorosos viviam tal comportamento.
O ascetismo, nesse contexto, nada mais é do que um conjunto de privações, evitações que fazem parte da vida de todos que seguem esta doutrina. É fato que como servos de Cristo somos convidados a viver um ascetismo decente, cujas privações visam mortificar a carne e fortalecer o espírito, assim como o jejum é indispensável nesse processo.
Mas qual a relação entre essa conduta e o farisaísmo?
Nos tempos de Cristo os fariseus viviam essa realidade, pois utilizavam o jejum como princípio de privação e devoção, todavia não glorificavam a Deus, mas a si mesmos (Mateus 6.5).
Era comum no primeiro século da igreja encontrar um fariseu que após acordar não penteava o cabelo, nem escovava os dentes, mas ia todo desleixado orar nas esquinas para ser visto como “um exemplo de homem de Deus”.
Tratava-se de um ascetismo antropocêntrico, pois muitos dos que passavam e diziam: “eis aí um homem de Deus que renuncia os prazeres do mundo por Seu Senhor”. Sem titubear o Messias os denominava de hipócritas, pois seu maior objetivo era vender uma imagem para os homens e adquirir glórias terrenas para si.
Pasmem todos, mas essa prática não se restringiu apenas ao tempo de Cristo, mas com o passar dos anos ela foi se amoldando as novas culturas até chegar em nossa contemporaneidade.
Há um ascetismo moderno agregado a prática farisaica contemporânea.
É fácil identificar isso principalmente na internet – o maior veículo informativo desse mundo pós-moderno.
Quantos que se dizem homens de Deus e que arrebanham um público adquirem para si a imagem de santos homens, entretanto não glorificam Aquele que é Santíssimo?
Tais pessoas se elevam diante dos homens tendo aqui já reservado o seu galardão (Mateus 6.2).
Tudo o que fazemos para o nosso Deus: oração, jejum, leitura da Palavra de Deus, evangelização... São realmente para Deus e não para induzirmos a nossa promoção diante dos homens.
Quantas vezes nas redes sociais me deparo com imagens que representam tais práticas. Listarei algumas experiências:

1 – Certa feita me deparei com uma postagem de um irmão de joelhos no monte simulando uma oração e tirando uma selfie cuja legenda era: “Eu pagando um preço”, “No monte falando com O Senhor”.
Perdoem-me, mas o objetivo de tal pessoa é glorificar a si mesmo. O mais interessante é como o ego dela é massageado quando se vê nos comentários as seguintes frases: “Deus precisa de homens que busquem a Ele como você!”, “É isso mesmo varão, seja exemplo para essa geração.”
É muito complexa essa triste realidade. O homem de Deus quando está orando se esvazia de todo o seu eu e se enche de Deus.
Ou você ora ou tira uma selfie, os dois não dá!

2 – Em outra ocasião uma certa pessoa postou uma foto entregando folhetos evangelísticos. O mais curioso era a pose feita para a foto que foi tirada, o indivíduo entregando um folheto, um pecador recebendo e ambos olhando para a foto. Parecia mais uma politicagem. A legenda era: “Eu fazendo o ide, ganhando almas para Deus”.
Para piorar vem os massageadores de ego do endeusado com os seguintes comentários: “Deus precisa de homens que façam o ide”, “Que Deus levante homens como você que tenha paixão pelas almas”.
Mais um exemplo da glória ao próprio homem.
Se eu ganho almas para Cristo isso só diz respeito a mim e Ele.


3 – Há pregadores que em suas ministrações fazem questão de dizer quantas vezes oraram, jejuaram, leram a Palavra, quantas almas ganharam, quantas ofertas entregam... Tudo isso não edifica a vida de nenhum ouvinte, mas os conduzem a olhar para o “ministro” e dizer que ele é muito bom.
                Isso se assemelha a prática do fariseu orando no templo ao lado do publicano. Enquanto o fariseu se promovia diante de Deus pelos seus atos, o publicano se humilhava. Cristo mesmo disse que ele “orava de si para si mesmo”. Ele orava alto para que todos vissem quem ele era (Lucas 18).
                Que tenhamos a humildade do publicano que reconhecendo os seus erros disse: “Deus, tem misericórdia de mim que sou pecador!”.

4 – Certos pregadores tem o costume de quanto estão pregando e após a pregação postarem fotos de suas apresentações seguidas das legendas: “Preguei hoje e quebrei tudo”, “Virou a casa”, “Explodiu tudo!”, “Tremeu tudo”, “Hoje ganhei 10 almas para Cristo”.
Perdoem-me meus amigos se estou soando muito radical, mas quem tem um pouco de senso e conservadorismo sabe que não há mérito algum no homem. Aprouve a Deus nos usar de bondade para ganhar almas para o Seu reino.
Além do mais a maior honra é do irmão (a) que está há tempo lutando para que aquela vida visite a sua igreja.
Paremos de dizer que quebramos tudo, viramos a casa, explodiu, e muitos outros termos errôneos do meio pentecostal. Tudo isso mostra que, como está em primeira pessoa, a glória é minha.
Quem faz é Deus, do jeito que Ele determina e para a Sua glória!
Estamos no tempo do fim, às vésperas do arrebatamento, não sejamos presunçosos, egoístas e promotores de nossa própria imagem. Quem nos eleva é o Senhor por sua misericórdia.
O que fazemos para Deus e o que Ele faz por nós só diz respeito a vocês. Elizeu tendo porção dobrada da unção de Elias não se promovia, mas as suas obras eram vistas de modo que o testemunho que diziam a seu respeito era objetivo: “Eis que tenho observado que este que passa sempre por nós é um santo homem de Deus” (II Re 4.9).
Finalizo com um versículo das Escrituras Sagradas que resume como deve ser a nossa prática:

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus”.
(1 Coríntios 10.31)

Não precisamos dizer quem somos, mas as nossas práticas falarão por si mesmas.
Deus te abençoe!

Paz!

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